Assim como as borboletas...

18/06/2012 17:41

Capítulo 1  - O dia D

 

Meu dia D, de desolação, desespero, desamparo, detestável 17 de abril de 2011.

Nunca podia imaginar minha vida sem você. Imaginar que os meus 40 anos ficaria marcado pela sua perda é realmente algo impossível de se imaginar.

Chegamos ao hospital você estava andando, fazendo brincadeiras como sempre, eu de desesperada passei a correr pelo hospital assinando guias, chamando enfermeiros e você gritando meu nome, hoje acredito que você sentia ou sabia mais do que eu.

Foram 11 anos de amor, brigas, entendimentos, desentendimentos, mas acima de tudo você sempre foi mais que meu marido. Eu filha única, sempre estive sozinha, se não fosse o fato de ter sido mãe tão cedo. Você era meu melhor amigo, meu irmão, companheiro e mais que tudo, meu cuidador, pois a minha saúde sim, sempre foi triste, cheia de altos e baixos. Somando nesses 11 anos fiz mais de 6 cirurgias, e você ali, firme e forte. Eu sim, deveria ter morrido, não você, mas vai entender a vontade de Deus.

Lembro-me quando fiquei internada 20 dias, olhando o mundo pela janela, como era bom quando você me abraçava e ficávamos os dois olhando a vista mais linda de Brasília: o sol se pondo no Lago Norte e os carros passando na pista, o lago parecendo uma psicina e o sol vermelho como o fogo. Não dizíamos nada, você apenas beijava minha testa para novamente me entrelaçar em sinal de total proteção, e assim sempre me senti por você, protegida, quer sentimento de amor maior?

Eu não dizia nada com nada, seus últimos suspiros, o olhar para mim em segundos e pronto tudo acabou ali. Meu chão abriu, minha vida se esvaiu junto com meu sangue, nada mais fazia o menor sentido. Essa cena me marcou e marca até hoje.

Não consegui ir ao velório ou enterro, ver você dentro de um caixão era inadimissível para mim, sabia que meu desespero seria um show que eu não queria compartilhar com ninguém. Fiquei dentro do quarto, segurando sua roupa de véspera, ainda com seu cheiro. Tudo estava exatamente igual a antes de você partir, acho que na dor da negação, um ato desesperado de que tudo era um pesadelo e logo você entraria pela porta, assoviando, com seu jeito afobado de quem ganhou na Mega Sena todos os dias.

Meus olhos não fechavam pois a cena vinha em minha mente e eu gritava, e gritava como se para espantar um bicho-papão que quer te engolir. Vomitava sem parar, chorava em desespero, nunca senti tanta dor, uma dor que nenhuma morfina tira.

Ter que continuar, olhar pela janela e ver que a vida continua, tudo segue é a parte mais doída, pois para mim o mundo tinha que parar ali, naquele momento, parar de respirar como você parou. Nada mais fazia sentido algum.

Raiva, revolta, comoção, todos os sentimento vinham juntos como uma avalanche, não parecia nada real e tudo parecia estar em slow motion.

Resolvi então abrir meu presente de aniversário que você havia comprado e dessa única vez em tantos anos, eu nem imaginava o que seria, era um perfume , forte, marcante e adocicado, exatamente como você sabia ser o meu preferido. Ali estava você me deixando algo para adoçar a vida, que de uma hora para outra ficou tão amarga.

Não foi fácil ligar para os mais íntimos, dar a notícia da tragédia súbita e ouvir um "parabéns para você".

Infelizmente ou felizmente a vida segue e hoje consigo relatar isso sem chorar compulsivamente, embora eu confesse, que minhas entranhas estão se revirando aqui.

Espero que esse relato inicial do que vivi, dentre outros que se seguirão em capítulos, possa ajudar a você ou a vocês que perderam um ente querido, pois somos assim, frágeis e mortais, sensíveis e belos, como as borboletas.

 

Abraços e luz queridos...

 

Karina da Rocha

 

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